Nomeado
diretor-geral delegado do Apostolado da Oração (AO) e do Movimento
Eucarístico Jovem (MEJ), padre Frédéric Fornos, SJ, assumiu oficialmente
a missão durante o 4º Encontro Pan-africano do AO e do MEJ no dia 14 de
abril, em Duala, na República dos Camarões. Pe. Fornos nasceu em 1968,
foi admitido na Companhia de Jesus em 1994 e ordenado sacerdote em 2004.
Conheça um pouco de sua história na entrevista a seguir.
1) O que o levou a ser um sacerdote jesuíta? Conte-nos um pouco sobre sua história de vida.Encontrei
Jesus Cristo graças aos protestantes que me apresentaram o Evangelho na
rua. Fiquei próximo deles durante muitos anos na oração e no
aprofundamento das Escrituras. Logo depois que me apaixonei por uma
jovem, Cathy, o Senhor me convidou a segui-Lo. Era 18 de agosto de 1990.
Senti o chamado para ir de aldeia em aldeia como faziam os apóstolos,
segundo o Evangelho, para anunciar a Boa-Nova. Como desejava ser
"solteiro por causa do Reino" (Mt 19,10-12), para ter maior
disponibilidade, como os apóstolos, na mobilidade e na docilidade ao
Espírito, fui para a Igreja católica e pedi para me tornar "padre
jesuíta".
2) Quais foram os fatos marcantes no trabalho como coordenador europeu do Apostolado?Na
Europa, de acordo com nosso contexto cultural, a Igreja está mudando. A
cara da Igreja está desaparecendo com certo sofrimento, mas podemos
perceber as outras caras que o Espírito do Senhor fez nascer. Como dizia
o Papa Bento XVI: "o centro da crise da Igreja na Europa é a crise da
fé". A fé nasce do encontro com o Cristo Ressuscitado no centro de nossa
vida, reconhecendo, mediante nosso coração fervoroso, sua presença. Na
Europa, o AO está em crise e o MEJ, embora dinâmico, está pouco
presente. Minha primeira preocupação nesses últimos anos foi acompanhar o
processo de recriação do AO na Europa, com a ajuda de documentos
elaborados internacionalmente. Acredito que, se continuarmos nesse
caminho, a rede de oração do Papa Francisco (o AO) pode recuperar uma
nova juventude.
3) O senhor foi nomeado diretor-geral
delegado do Apostolado da Oração e do Movimento Eucarístico Jovem. Como
recebeu a notícia e quando teve início o novo mandato?Quando
minha nomeação oficial feita pelo Padre-geral se tornou pública, em 20
de setembro de 2013, perguntei a mim mesmo se não havia ocorrido um
erro. Trabalhava fazia quatro anos com o Pe. Claudio Barriga
(diretor-geral delegado do AO e do MEJ, na época) em seu conselho
internacional e, havia dois anos, como seu conselheiro principal no
processo de recriação. Várias eram as chances de me chamarem para
sucedê-lo, mas, quando isso foi confirmado pelo Padre-geral, fui pego de
surpresa. O Senhor é o Deus das surpresas. Ele vem quando você menos
espera, mas já tinha preparado meu coração interiormente para me
libertar e acolher o que o Senhor havia planejado para mim, e meu único
desejo era ser dócil ao seu Espírito. Hoje, recebo com alegria essa
missão de acompanhar e apoiar as equipes encarregadas pelo AO e pelo MEJ
não só pelo Mediterrâneo, como na época do apóstolo São Paulo, mas pelo
mundo inteiro. É uma dádiva poder testemunhar o que o Senhor faz pelo
mundo.
Fui com Pe. Claudio ao Togo, ao Gabão e à República dos
Camarões encontrar as equipes locais do MEJ e participar do 4º Encontro
Pan-africano do AO e do MEJ. Testemunhamos a fé profunda de muitos
homens, mulheres e jovens. Descobri o dinamismo do MEJ local por meio
das orações, das partilhas, dos cantos e das danças. Um momento
particularmente emocionante aconteceu na segunda-feira, 14 de abril, em
Duala, quando recebi do Pe. Claudio minha nova missão.
4)
Como o senhor vê este chamado à missão confiada ao Apostolado, uma vez
que tudo começou na França há, aproximadamente, 170 anos?Nasci
na França, em Tolouse, cidade do sudoeste que viu o nascimento do AO há
170 anos. Estou particularmente sensibilizado com essa fagulha inicial
que se propagou pelo mundo inteiro. Um caminho de disponibilidade à
missão do Cristo. Hoje, assim como ontem, Jesus, o Ressuscitado,
continua convidando homens e mulheres a estar com Ele em uma relação
íntima e pessoal, o mais próximo possível de Seu Coração, para melhor
encarar os desafios de nossa humanidade. O AO pode ajudar, como disse o
Papa Francisco, a "redescobrirmos nosso batismo como fonte viva,
tirarmos energia nova da raiz da nossa fé e de nossa experiência
cristã... É dessa fagulha que posso acender o fogo para o dia de hoje,
para cada dia, e levar calor e luz aos meus irmãos e às minhas irmãs"
(Vigília pascal - 20 de abril de 2014).
5) Em sua opinião, quais são os principais desafios do cargo na missão?Não
conheço suficientemente as realidades cultural e eclesial do Brasil, ou
até mesmo da América Latina, e, assim, minha visão permanece parcial.
Quanto ao plano internacional, parece-me importante acompanhar o
processo de recriação do AO em si, em vez de associá-lo ao MEJ;
favorecer as colaborações e as sinergias; levar em conta o mundo da
comunicação visual, no qual vivemos, reforçando em particular nossa
presença no continente digital; e refazer também o dinamismo missionário
ao AO quanto à revitalização espiritual dos paroquianos.
6)
Vivemos uma mistura cultural e religiosa sem precedentes. Como superar e
avançar no trabalho realizado com o Apostolado da Oração?O
AO é um trunfo em relação às diversidades cultural e religiosa sem
precedentes que vivemos mundialmente. O AO é uma rede mundial de oração a
serviço dos desafios da humanidade e da missão da Igreja, expressos nas
Intenções mensais do Papa. Muitos desafios em relação ao mundo foram
apresentados pelo Papa, independentemente de convicções religiosas,
filosóficas, ou até mesmo culturais, tais como: a ecologia, a promoção
do desenvolvimento econômico da dignidade de todos, o respeito aos
idosos e os direitos das mulheres, os refugiados etc. Podemos juntos,
por meio da oração e do serviço, contribuir para um novo mundo de
fraternidade e de paz.
7) Qual é a importância do Apostolado da Oração nos dias atuais?Atualmente,
o AO está presente em 84 países do mundo, em todos os continentes, com a
participação de 40 milhões de pessoas que apoiam essa rede de oração.
"No Brasil, o AO é muito ativo e difundido", de acordo com as palavras
do Pe. Claudio Barriga, SJ. "Em muitos países, o movimento está
envelhecendo e não tem dinamismo missionário. É por isso que a
'recriação' é necessária", segundo Adolfo Nicolás, SJ, padre geral da
Companhia de Jesus. Não podemos decretar o que depende do Espírito do
Senhor, mas podemos ficar de prontidão.
8) O Apostolado é
uma missão confiada à Companhia de Jesus e tem o reconhecimento da
Igreja desde 1849. Como é possível manter e ao mesmo tempo tornar mais
conhecida uma tradição antiga no coração e na vida das pessoas,
principalmente dos jovens?Na verdade, é um desafio,
visto que o AO se parece mais com uma velha senhora. O problema também é
a Igreja e o Evangelho, com suas palavras e suas imagens tão gastas,
que não conseguem mais se assemelhar à nossa vida. Por isso, um dos
desafios do AO, no processo de recriação em que vivemos, é encontrar uma
nova linguagem e imagens que possam dar conta do tesouro ao qual fomos
confiados e, hoje, ajudar a missão de Cristo. Algumas pessoas acham que o
AO é como uma avó que nos pede para surfar nas praias do Rio de
Janeiro. Não sei, na verdade, se ela vai conseguir, mas conheço uma irmã
de 86 anos que, ao saber que o AO estava disponível na internet,
começou a "surfar" na web e a acompanhar sua comunidade e suas sobrinhas
nesse novo continente em que Jesus se encontra.
9) No
Brasil, o Movimento Eucarístico Jovem ainda é relativamente pequeno e
pouco conhecido. De que maneira se pode envolver e motivar a juventude a
participar do movimento?Jesus é o mesmo ontem e hoje.
Aquele que O encontra tem sua vida transformada. O AO propõe um caminho
testado pelo tempo, que nos leve a aproveitar esse Amor, o qual a
pequena Teresa do Menino Jesus conheceu aos 12 anos e que a conduziu
pelo caminho da santidade. Teresa de Lisieux, quando criança, foi membro
do AO. Ela é, junto com São Francisco Xavier, a santa padroeira do AO e
do MEJ. Aquele que encontrou em seu pequeno caminho o Amor, o
"elevador" que o conduziu, sem fazer grandes esforços, ao coração de
Jesus, certamente ajudará os jovens que desejam enfrentar os grandes
desafios que têm pela frente e os problemas do mundo de hoje.
O
meu primeiro encontro com o MEJ no Brasil ocorreu agora, de 1º a 4 de
maio, em Baturité, Ceará. Acho que isso contribuirá, com a ajuda da
equipe nacional, para a criação de um MEJ dinâmico que será bom não só
para os jovens, mas também para a Igreja do Brasil.
Clique aqui para ver mais fotos da nossa galeria.
Texto: Vanessa Fonseca
Tradução: Fernanda Mizioka
Foto: Arquivo pessoal de Pe. Fornos, SJ
Legenda: Padres Claudio Barriga (ao centro) e Frédéric Fornos (à direita) cumprimentam o Papa Francisco