Recordemos,
para começar, que o Papa Pacelli está misteriosamente vinculado a
Fátima. Foi sagrado bispo pelo Papa Bento XV, na capela Sistina,
exactamente na mesma manhã - às 12h00 - de 13 de Maio de 1917, quando a
Santíssima Virgem aparecia aos três pastorinhos.
Ademais,
durante o seu pontificado fez-se eco à petição de Nossa Senhora por
intermédio da Irmã Lúcia em Tuy (aparição de 1929) para que o Papa
consagrasse a Rússia ao Seu Imaculado Coração, efectuada em 1952
mediante a carta apostólica “Sacro vergente anno”, embora não tenha sido
em conjunto com todos os bispos do mundo como o havia pedido a Virgem
Maria.
Sabia-se
que Pio XII teria visto o mesmo milagre do sol de Fátima nos jardins do
Vaticano através de uma homilia que o Cardeal Federico Todeschini,
enviado ao lugar das aparições como legado pontifício para encerrar o
ano de 1950, pronunciou a 13 de Outubro de 1951 e na qual afirmou que o
Papa havia visto o mesmo que presenciaram os testemunhos que estavam
presentes em Fátima no dia da última aparição (13 de Outubro de 1917).
Esta revelação foi amplamente difundida pela imprensa da época,
chegando-se a imprimir milhares de estampas representando a cena de Pio
XII a olhar para o sol dançante sobre os jardins vaticanos, mas não se
tinha uma versão directa do episódio.
Em
Novembro de 2008, um dos biógrafos mais conhecidos do venerável Papa,
Andrea Tornielli, revelou o descobrimento, entre os papéis privados da
família Pacelli, de um autógrafo do Papa em que se lê o relato do que
viu por mais de uma vez naquele outono jubilar de 1950. O documento é de
um extraordinário valor por ser de primeira mão, por sua imediatez e
pela sua linguagem natural (longe do grande estilo que caracteriza a
oratório e os escritos oficiais de Pacelli), e confirma plenamente o que
já se sabia por via indirecta.
Escreveu o Papa Pio XII:
"Era o
dia 30 de Outubro de 1950, antes da vigília do dia, esperado com tantas
ânsias por todo o mundo católico, da solene definição da Assunção ao
Céu de Maria Santíssima. Pelas quatro da tarde, fazia o meu costumeiro
passeio pelos jardins vaticanos, lendo e estudando, como sempre, vários
documentos de despacho.
Ia
subindo desde a praça da Virgem de Lourdes para o topo da colina, pelo
caminho da direita que segue paralelo ao longo da muralha. De repente,
havendo levantado os olhos dos papéis que tinha na mão, fui surpreendido
por um fenómeno que não havia nunca até então visto. O sol, que todavia
estava bastante alto, aparecia como um globo opaco amarelado,
circundado por um círculo de luz ao redor, o qual, sem embargo, não me
impedia de modo algum de mirá-lo fixamente sem causar a mínima moléstia.
Só
havia adiante uma pequena nuvem. O globo opaco se movia ligeiramente
para fora, seja girando, seja vindo da esquerda para a direita e
vice-versa. Porém no interior do globo se viam com toda claridade e sem
interrupção movimentos fortíssimos.
O
mesmo fenómeno se repetiu no dia seguinte, 31 de Outubro, e a 1 de
Novembro, oitava da mesma solenidade. A partir de então nada mais vi.
Várias vezes, nos dias seguintes, à mesma hora e com as mesmas ou
similares condições atmosféricas, procurei olhar para o sol para ver se
aparecia o mesmo fenómeno, mas foi em vão. Não conseguia olhá-lo sequer
por um instante, pois a vista ficava imediatamente cegada.
Durante
os dias seguintes dei a conhecer o facto a poucos íntimos e a um
pequeno grupo de cardeais (talvez quatro ou cinco), entre os quais
estava o cardeal Tedeschini. Quando este, antes de sua partida para a
missão de Fátima, veio visitar-me, comunicou-me seu propósito de falar
disso na sua homilia. Eu respondi-lhe: “Deixa-o estar, não é o caso”.
Porém, ele insistiu, defendendo o oportuno de semelhante anúncio, e
então expliquei-lhe alguns detalhes do acontecimento. Esta é, em breves e
simples termos, a pura verdade."
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