sábado, 17 de maio de 2014

Entrevista com Pe. Frédéric Fornos, SJ, novo diretor-geral delegado do AO e do MEJ



Nomeado diretor-geral delegado do Apostolado da Oração (AO) e do Movimento Eucarístico Jovem (MEJ), padre Frédéric Fornos, SJ, assumiu oficialmente a missão durante o 4º Encontro Pan-africano do AO e do MEJ no dia 14 de abril, em Duala, na República dos Camarões. Pe. Fornos nasceu em 1968, foi admitido na Companhia de Jesus em 1994 e ordenado sacerdote em 2004. Conheça um pouco de sua história na entrevista a seguir.

1) O que o levou a ser um sacerdote jesuíta? Conte-nos um pouco sobre sua história de vida.

Encontrei Jesus Cristo graças aos protestantes que me apresentaram o Evangelho na rua. Fiquei próximo deles durante muitos anos na oração e no aprofundamento das Escrituras. Logo depois que me apaixonei por uma jovem, Cathy, o Senhor me convidou a segui-Lo. Era 18 de agosto de 1990. Senti o chamado para ir de aldeia em aldeia como faziam os apóstolos, segundo o Evangelho, para anunciar a Boa-Nova. Como desejava ser "solteiro por causa do Reino" (Mt 19,10-12), para ter maior disponibilidade, como os apóstolos, na mobilidade e na docilidade ao Espírito, fui para a Igreja católica e pedi para me tornar "padre jesuíta".

2) Quais foram os fatos marcantes no trabalho como coordenador europeu do Apostolado?

Na Europa, de acordo com nosso contexto cultural, a Igreja está mudando. A cara da Igreja está desaparecendo com certo sofrimento, mas podemos perceber as outras caras que o Espírito do Senhor fez nascer. Como dizia o Papa Bento XVI: "o centro da crise da Igreja na Europa é a crise da fé". A fé nasce do encontro com o Cristo Ressuscitado no centro de nossa vida, reconhecendo, mediante nosso coração fervoroso, sua presença. Na Europa, o AO está em crise e o MEJ, embora dinâmico, está pouco presente. Minha primeira preocupação nesses últimos anos foi acompanhar o processo de recriação do AO na Europa, com a ajuda de documentos elaborados internacionalmente. Acredito que, se continuarmos nesse caminho, a rede de oração do Papa Francisco (o AO) pode recuperar uma nova juventude.

3) O senhor foi nomeado diretor-geral delegado do Apostolado da Oração e do Movimento Eucarístico Jovem. Como recebeu a notícia e quando teve início o novo mandato?

Quando minha nomeação oficial feita pelo Padre-geral se tornou pública, em 20 de setembro de 2013, perguntei a mim mesmo se não havia ocorrido um erro. Trabalhava fazia quatro anos com o Pe. Claudio Barriga (diretor-geral delegado do AO e do MEJ, na época) em seu conselho internacional e, havia dois anos, como seu conselheiro principal no processo de recriação. Várias eram as chances de me chamarem para sucedê-lo, mas, quando isso foi confirmado pelo Padre-geral, fui pego de surpresa. O Senhor é o Deus das surpresas. Ele vem quando você menos espera, mas já tinha preparado meu coração interiormente para me libertar e acolher o que o Senhor havia planejado para mim, e meu único desejo era ser dócil ao seu Espírito. Hoje, recebo com alegria essa missão de acompanhar e apoiar as equipes encarregadas pelo AO e pelo MEJ não só pelo Mediterrâneo, como na época do apóstolo São Paulo, mas pelo mundo inteiro. É uma dádiva poder testemunhar o que o Senhor faz pelo mundo.

Fui com Pe. Claudio ao Togo, ao Gabão e à República dos Camarões encontrar as equipes locais do MEJ e participar do 4º Encontro Pan-africano do AO e do MEJ. Testemunhamos a fé profunda de muitos homens, mulheres e jovens. Descobri o dinamismo do MEJ local por meio das orações, das partilhas, dos cantos e das danças. Um momento particularmente emocionante aconteceu na segunda-feira, 14 de abril, em Duala, quando recebi do Pe. Claudio minha nova missão.

4) Como o senhor vê este chamado à missão confiada ao Apostolado, uma vez que tudo começou na França há, aproximadamente, 170 anos?

Nasci na França, em Tolouse, cidade do sudoeste que viu o nascimento do AO há 170 anos. Estou particularmente sensibilizado com essa fagulha inicial que se propagou pelo mundo inteiro. Um caminho de disponibilidade à missão do Cristo. Hoje, assim como ontem, Jesus, o Ressuscitado, continua convidando homens e mulheres a estar com Ele em uma relação íntima e pessoal, o mais próximo possível de Seu Coração, para melhor encarar os desafios de nossa humanidade. O AO pode ajudar, como disse o Papa Francisco, a "redescobrirmos nosso batismo como fonte viva, tirarmos energia nova da raiz da nossa fé e de nossa experiência cristã... É dessa fagulha que posso acender o fogo para o dia de hoje, para cada dia, e levar calor e luz aos meus irmãos e às minhas irmãs" (Vigília pascal - 20 de abril de 2014).

5) Em sua opinião, quais são os principais desafios do cargo na missão?

Não conheço suficientemente as realidades cultural e eclesial do Brasil, ou até mesmo da América Latina, e, assim, minha visão permanece parcial. Quanto ao plano internacional, parece-me importante acompanhar o processo de recriação do AO em si, em vez de associá-lo ao MEJ; favorecer as colaborações e as sinergias; levar em conta o mundo da comunicação visual, no qual vivemos, reforçando em particular nossa presença no continente digital; e refazer também o dinamismo missionário ao AO quanto à revitalização espiritual dos paroquianos.

6) Vivemos uma mistura cultural e religiosa sem precedentes. Como superar e avançar no trabalho realizado com o Apostolado da Oração?

O AO é um trunfo em relação às diversidades cultural e religiosa sem precedentes que vivemos mundialmente. O AO é uma rede mundial de oração a serviço dos desafios da humanidade e da missão da Igreja, expressos nas Intenções mensais do Papa. Muitos desafios em relação ao mundo foram apresentados pelo Papa, independentemente de convicções religiosas, filosóficas, ou até mesmo culturais, tais como: a ecologia, a promoção do desenvolvimento econômico da dignidade de todos, o respeito aos idosos e os direitos das mulheres, os refugiados etc. Podemos juntos, por meio da oração e do serviço, contribuir para um novo mundo de fraternidade e de paz.

7) Qual é a importância do Apostolado da Oração nos dias atuais?

Atualmente, o AO está presente em 84 países do mundo, em todos os continentes, com a participação de 40 milhões de pessoas que apoiam essa rede de oração. "No Brasil, o AO é muito ativo e difundido", de acordo com as palavras do Pe. Claudio Barriga, SJ. "Em muitos países, o movimento está envelhecendo e não tem dinamismo missionário. É por isso que a 'recriação' é necessária", segundo Adolfo Nicolás, SJ, padre geral da Companhia de Jesus. Não podemos decretar o que depende do Espírito do Senhor, mas podemos ficar de prontidão.

8) O Apostolado é uma missão confiada à Companhia de Jesus e tem o reconhecimento da Igreja desde 1849. Como é possível manter e ao mesmo tempo tornar mais conhecida uma tradição antiga no coração e na vida das pessoas, principalmente dos jovens?

Na verdade, é um desafio, visto que o AO se parece mais com uma velha senhora. O problema também é a Igreja e o Evangelho, com suas palavras e suas imagens tão gastas, que não conseguem mais se assemelhar à nossa vida. Por isso, um dos desafios do AO, no processo de recriação em que vivemos, é encontrar uma nova linguagem e imagens que possam dar conta do tesouro ao qual fomos confiados e, hoje, ajudar a missão de Cristo. Algumas pessoas acham que o AO é como uma avó que nos pede para surfar nas praias do Rio de Janeiro. Não sei, na verdade, se ela vai conseguir, mas conheço uma irmã de 86 anos que, ao saber que o AO estava disponível na internet, começou a "surfar" na web e a acompanhar sua comunidade e suas sobrinhas nesse novo continente em que Jesus se encontra.

9) No Brasil, o Movimento Eucarístico Jovem ainda é relativamente pequeno e pouco conhecido. De que maneira se pode envolver e motivar a juventude a participar do movimento?

Jesus é o mesmo ontem e hoje. Aquele que O encontra tem sua vida transformada. O AO propõe um caminho testado pelo tempo, que nos leve a aproveitar esse Amor, o qual a pequena Teresa do Menino Jesus conheceu aos 12 anos e que a conduziu pelo caminho da santidade. Teresa de Lisieux, quando criança, foi membro do AO. Ela é, junto com São Francisco Xavier, a santa padroeira do AO e do MEJ. Aquele que encontrou em seu pequeno caminho o Amor, o "elevador" que o conduziu, sem fazer grandes esforços, ao coração de Jesus, certamente ajudará os jovens que desejam enfrentar os grandes desafios que têm pela frente e os problemas do mundo de hoje.

O meu primeiro encontro com o MEJ no Brasil ocorreu agora, de 1º a 4 de maio, em Baturité, Ceará. Acho que isso contribuirá, com a ajuda da equipe nacional, para a criação de um MEJ dinâmico que será bom não só para os jovens, mas também para a Igreja do Brasil.

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Texto: Vanessa Fonseca
Tradução: Fernanda Mizioka
Foto: Arquivo pessoal de Pe. Fornos, SJ
Legenda: Padres Claudio Barriga (ao centro) e Frédéric Fornos (à direita) cumprimentam o Papa Francisco

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